segunda-feira, agosto 14, 2006

À la Recherche du Temps Perdu*




A Mamã andou a fazer um pouco de arqueologia doméstica e desenterrou (literalmente) o meu álbum de fotografias de infância.
Bof, grande coisa pensam vocês. Estão enganados, pois na era pós-moderna, tecno-neurótica, fast forward e pixelada em que vivemos, este álbum não tinha a forma de um volumoso calhamaço encadernado a cabedal com páginas de cartolina preta e lombada cozida com pesponto duplo, um vetusto objecto com a presença física e a subtileza de um tijolo, mas existia no suporte "cartão de memória". Ou seja, uma lasquinha de plástico do tamanho de uma unha (humana). Portanto o facto de a Mamã ter encontrado as cerca de 80 fotos que documentam parte da minha infância, numa migalha de plástico que andava perdida pela casa há meses, não deixa de ser um feito digno de nota.

Ontem foi tão giro vê-los aos dois sentadinhos em frente ao computador, a passar as fotos em slideshow entre exclamações de "OH!" e "AH!" e "Olha tão pequenino...", "Olha tão lindo que ele era", "Olha para ele a roer a sua primeira meia!" e depois em coro "Parece que foi ontem que o trouxemos para casa [suspiros e mais ais]".

É impressão minha ou os meus pais estão a ficar uns sentimentalões?!
E logo agora que estou a ficar um homem... quero dizer um cão-homem.
Ainda me vão fazer passar vergonhas...


foto: imagem da exposição "The American Colony in Jerusalem" organizada pela Livraria do Congresso, em Washington DC, EUA. Mais informação em www.loc.gov/exhibits/americancolony


[* "Em Busca do Tempo Perdido", obra prima da literatura universal escrita por Marcel Proust, francês, dandy, romancista e génio, no início do século XX. Estes volumes de aspecto um tanto indigesto, que estão numa prateleira alta da estante, escaparam até ao momento às minhas ferozes críticas literárias. Mas a Mamã olha para eles reverencialmente e respira fundo antes de começar a ler portanto tenho-os em grande conta].

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