segunda-feira, julho 24, 2006

Praia... (Suspiro)

Peço desculpa à minha legião de leitores assíduos (desculpem lá vocês os 4), mas hoje tenho de dar voz à minha indignação.

Então é assim...

Durante o Verão, eu só posso ir à praia ao fim do dia, porque a Lei proíbe-me de ir "conspurcar" o areal com a sujidade e as bactérias que o Legislador imagina - com base num preconceito já de si bastante injusto - que eu trago agarradas à minha pessoa.

Fora isso, ainda há que evitar as pessoas que me atiram olhares ferozes e agitam dedos e abanam cabeças na direcção dos meus humanos, chegando mutias vezes a vociferar ameaças veladas e tiradas maldosas que, como verdadeiros mesquinhos cobardes que são, não têm a decência de proferir cara-a-cara, validando assim o direito de resposta dos meus humanos.

Mas, quando olho para lixeiras como esta, ponho-me a pensar...




- Eu não abandono os meus brinquedos na praia . Estas coisas todas o que são? Serão brinquedos esquecidos? Será a forma dos humanos dizerem que gostaram tanto de uma certa praia que querem reclamá-la só para si e portanto enchem-na com as coisas deles, para estragar a festa a todos os outros humanos que cheguem depois? Estranhos hábitos territoriais...

- Eu não como nem fumo na praia e portanto não deixo todo o tipo de lixo por ali, infecto e mal cheiroso. Deixo isso para os bípedes, para quem "Sujar a Praia" parece ser o desporto favorito da época de veraneio.

- Eu não bebo cerveja nem outras bebidas em recipiente de vidro, descartando em seguida as garrafas, que se partem espalhando estilhaços perigosíssimos por todo o lado. Graças aos humanos, andar de pata ao léu na praia é quase uma temeridade. Alguém devia avisar os humanos pequeninos, pelos quais nutro uma enorme simpatia, porque conhecem o mundo da perspectiva canina e como nós andam sobre 4 apoios. E sabem bem o poder de uma boa lambidela como veículo de experiência e aquisição cognitiva. E como nós, sabem o que é ser indefeso e estar à mercê dos humanos grandes, para o bem e para o mal.

- Eu faço xixi e cocó ANTES de ir para a praia. Quando estou num aperto e preciso de "ir", levam-me para as dunas mais distantes e, como a textura da areia ajuda, os meus humanos apanham toda a sujidade e também a areia adjacente, ficando o "local do crime" perfeitamente limpo. Os humanos vão para o meio da água, assobiar para o ar e fingir que a mancha amarela que alastra à volta deles não é da da sua conta. E quem está nas imediações que se lixe. Para não falar nas fraldas sujas mudadas em plena praia e abandonadas na areia, e os cocós de humaninhos que andam "al fresco" e que vão fazendo coisinhas onde calha, sem os pais estarem minimamente preocupados. Os meus cocós são logo apanhados e os deles?! Afinal merda é merda, certo? (Pardon my French)

- Eu brinco a apanhar bolas o mais longe possível dos humanos que apanham banhos de sol. Não gosto de andar a saltitar por cima de toda a gente, não é simpático, e as minhas bolas nunca atingiram ninguém. Se calhar devia dar umas lições de arremesso e recepção aos humanos que fazem questão de jogar futebol e raquetes ao pé das pessoas que estão deitadas e que invariavelmente apanham com um projéctil redondo na testa.

E finalmente... eu sou vacinado, desparasitado, ensaboado, limpo e escovado escrupulosamente.
Tenho papéis que o provam (no caso das vacinas e desparasitações). Para o resto, convido qualquer humano a verificar o estado de limpeza e o índice de odores da minha pessoa. Se quiserem comparar pêlo, orelhas e dentes comigo, estejam à vontade, não me ganham de certeza.

E no entanto, é a mim que olham com repugnância. Eu é que sou "Sujo".
Gostava de saber quando é que vão passar uma Lei que proíba os humanos de andar por aí a espalhar imundíce e que os obrigue a portar-se de forma civilizada e higiénica.

Eu cá não meto coisas estranhas na boca, mas às vezes estou em crer que a Mamã fica tão raivosa com certas atitudes de que sou alvo que era bem capaz de ferrar uma dentada no prevaricador.

Mas eu tento sempre acalmá-la. Nesta sociedade de bárbaros, ainda a põem no Canil de Grades Altas para Humanos.

E depois, o que seria de mim?

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